quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Cultuando Memórias


Se pretendemos cultuar a memória de familiares queridos, transferidos para a outra Vida, elejamos o local ideal:
nossa casa.
Usemos muitas flores para enfeitar a Vida, no aconchego do lar; nunca para exaltar a morte, na frieza do cemitério.
Eles preferirão, invariavelmente, receber nossa mensagem de carinho, pelo
correio da saudade, sem selagem fúnebre.
É bom sentir saudade.
Significa que há amor em nossos corações, o sentimento supremo que empresta significado e objetivo à existência.
Quando amamos de verdade, com aquele afeto puro e despojado, que tem nas mães o exemplo maior, sentimo-nos fortes e resolutos, dispostos a enfrentar o Mundo.
E talvez Deus tenha inventado a ilusão da morte para que superemos a
tendência milenar de aprisionar o amor em círculos fechados de egoísmo
familiar, ensinando-nos a cultivá-lo em plenitude, no esforço da
fraternidade, do trabalho em favor do semelhante, que nos conduz às
realizações mais nobres.
Não permitamos, assim, que a saudade se converta em motivo de angústia e opressão.
Usemos os filtros da confiança e da fé, dulcificando-a com a compreensão de que as ligações afetivas não se encerram na sepultura.
O amor, essência da Vida, estende-se, indestrutível, às moradas do infinito,
ponte sublime que sustenta, indelével, a comunhão entre a Terra e o Céu.
Há, pois, dois motivos para não cultivarmos tristeza:
Sentimos saudade - não estamos mortos...
Nossos amados não estão mortos - sentem saudade.
E se formos capazes de orar, contritos e serenos, nesses momentos de
evocação, orvalhando as flores da saudade com a bênção da esperança,
sentiremos a presença deles entre nós, envolvendo suavemente nossos corações com cariciosos perfumes de alegria e paz.
Richard Simonetti

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